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quarta-feira, 4 de junho de 2008

Depressão, preguiça ou desânimo?

(Chafic Jbeili)

Quem não vivenciou uma série de resultados negativos, projetos fracassados, escassez de dinheiro, conflitos interpessoais, falta de incentivo ou de reconhecimento? Esses são alguns elementos que nos fazem esquecer o sentido de nossa existência causando-nos desânimo.

Saber as diferenças básicas entre os males psíquicos é de grande valia para quem quer se cuidar com responsabilidade e eficiência, pois nem toda inércia é preguiça e nem toda tristeza é depressão. Vejamos:

A Depressão é uma doença tratável. Compõe-se basicamente de distúrbio psíquico ocasionado por conflitos internos e alteração química no cérebro. Ela pode ser identificada em três níveis: Leve, Moderada e Grave de acordo com uma série de sintomas específicos. Deve ser tratada pelo médico psiquiatra através de psicofármacos e apoio psicológico através de terapia com psicólogo ou psicanalista.

A Preguiça é a aversão temporária, motivada ou irracional, a um determinado tipo de tarefa. Pode também ser uma defesa do organismo debilitado.

A Desmotivação não existe de forma genérica pois, se a motivação é ocasionada pelo conjunto de fatores psicológicos (conscientes ou inconscientes) de ordem fisiológica, intelectual ou afetiva, os quais agem entre si e determinam a conduta de um indivíduo, logo pode-se ter vários motivos para não querer ou precisar fazer nada. A pessoa estará motivada a inércia. O termo “desmotivado” só deve ser usado em relação a alguma coisa. Por exemplo: “Paulo está desmotivado com os estudos” ou “Ana está desmotivada com o namorado”, mas nunca “Rita está tão desmotivada ultimamente”.

Estar motivado é ter razões para agir, e agir. Estar animado é muito mais do que ter força, coragem, motivos ou razões para agir, é em essência ter em foco o significado da ação que se pretende realizar. Quantas pessoas têm motivos e razões para “agüentar” a instabilidade de humor do chefe ou a mornidão profissional, simplesmente porque têm suas contas para pagar ou têm que “honrar” um compromisso e “mostrar” que dão conta do recado? Já o animado, na essência da palavra - que quer dizer sopro de vida - transcende a razão, retro-alimentando a motivação com doses elementares de ideais próprios e que traduzem um estilo particular de viver, permeados de crenças e valores pessoais. É o ânimo que gera a persistência prolongada a despeito dos obstáculos.

Ao desanimado é comum adiar projetos, recusar desafios e evitar assumir riscos. A apatia e irascibilidade são explícitas nas pessoas portadoras de desânimo. E quem acolhe esse mal, tem dificuldade até de acreditar em elogios ou mesmo entender uma piada. Em geral o desanimado está sempre pensando que nada saiu ou sairá como planejado, ou ainda, que não há mais nada a fazer. O interessante é que o desânimo não vem só pela escassez, mas também pela abastança, quando os objetivos são alcançados e não se tem um pós-projeto para o sucesso. Quase todo mundo deseja o sucesso, mas poucos preparam um projeto para usufruí-lo. Neste caso é comum a pessoa sentir um “vazio interior” mesmo com muito dinheiro, fama e poder.

Alguns dos principais fatores que deflagram ou alimentam o desânimo são:
• Falta crônica de dinheiro

Vivemos em um mundo capitalista e consumista onde o dinheiro é o combustível que põe em movimento todo o sistema. Se por um lado o dinheiro representa realizações, poder e posses, por outro, sua falta simboliza um ultimato à sobrevivência.

• Constância de resultados insatisfatórios, nulos ou negativos

Esta é uma questão de perspectiva, expectativa e sobretudo inteligência. É uma questão de perspectiva porque nem tudo é tão bom como parece nem tão ruim como se costuma pensar. É uma questão de expectativa porque não se deve agir esperando a satisfação plena de todos, pois segundo o filósofo grego Epicuro, “nada nunca será o bastante para quem acha pouco aquilo que é suficiente”. E é sobretudo uma questão de inteligência, porque envolve capacidade de adaptação e potencial de criatividade.

• Avaliação simplória de desempenho e resultados

É a avaliação ingênua, sem base substancial e por isso infundada. A pessoa “mina” o seu próprio caminho e assim estabelece um resultado prévio, geralmente negativo, para justificar sua máxima: “Não sou bom o bastante”.

• Falta de retorno (feedback) de seu trabalho

As situações onde o elogio e o reconhecimento são poucos praticados ou erroneamente confundidos como instrumento de manutenção do orgulho – e por isso evitado a rigor, também esvaem o sentido de qualquer ação interferindo de maneira drástica na história profissional e pessoal, “respingando” em outras importantes áreas da vida.

• Falta de apoio e incentivo

Esses elementos materializam o sentimento de pertencer reforçando o “espírito de corpo”, além de amenizar o sentimento de solidão, restauram as esperanças.

• Conflitos interpessoais

As relações onde as pessoas estão mais atentas aos erros e alheias aos acertos geralmente são mais instáveis e, por isso, mais vulneráveis ao desalento.

• Esgotamento físico e emocional

Ultrapassar os limites subjetivos do corpo e da mente, certamente sobrecarregará nossos órgãos e sentidos promovendo uma distorção da percepção real que temos dos acontecimentos. Como já dizia o cantor Renato Russo, “muitos dos nossos medos nascem do cansaço e da solidão”. Consideremos estes três elementos: cansaço, solidão e medo como adubos potenciais para o desânimo.

• Descuido pessoal

Há também que se orquestrar com muito tato e bom senso as três áreas da vida: a biofisiológica, a psicossocial e a espiritual. Uma não existe sem a outra. Não há nenhuma mais fraca nem mais forte. Uma dá sentido à outra, e as três juntas, harmoniosamente, provêm o bem-estar necessário para a busca do sentido da vida que alimenta e sustêm o ânimo.


Conhecer o inimigo é básico para vencê-lo! Portanto, mãos à obra e esmere-se em desenvolver pensamentos e atitudes mais adequados, e que certamente ajudarão bastante no embate contra esse mal. Toda via é preciso reconhecer que cada atividade traz em si a oportunidade da experiência e a possibilidade do sucesso. O grande problema é valorizar mais o sucesso do que a experiência. Experiências são cumulativas e tornam-se “bagagem de vida”, já o sucesso, embora saboroso é totalmente efêmero. O sucesso não deve ser mero objetivo de vida mas, o resultado de um trabalho que tenha significado íntimo, e se possível, prazeroso, produtivo e rentável.

(extraído e adaptado do livro “Superando o desânimo – antes que ele supere você”)

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