(Chafic Jbeili)
Não são poucos os poetas, filósofos, artigos e livros que falam sobre a importância do autoconhecimento como item imprescindível para quem, segundo Sócrates, quer levar uma “vida boa”. Outro filósofo escreveu que “...nada exige heroísmo intelectual tão extraordinário quanto o desejo de conhecer a própria equação pessoal”. Mas, porque será que autoconhecimento é comparado a ato heróico?!
Acredito que um dos grandes desafios da pessoa, empenhada em conhecer-se, seja superar a resistência em estar diante de si mesma. O homem é a única criatura que se recusa a ser o que é. Sofre, entre outras coisas, a pressão de um sistema que se esmera dioturnamente para torná-lo diferente do que realmente é. Os padrões de beleza, de comportamento e até de pensamentos impostos pela camada dominante desse sistema influenciam, siginificativamente, a expectativa que a pessoa constrói sobre si e sobre os outros. Por isso, o medo da rejeição e do ridículo a faz forjar um eu idealizado em detrimento do eu original e autêntico, ora para proteger o “eu real” que ela mesma deixou-se enfraquecer pelo auto-abandono, ora como recurso de sobrevivência social.
Se por um lado o homem resiste conhecer a si mesmo, em parte pelo medo de descobrir-se muito diferente do que todos esperavam que ele fosse, por outro a mente humana possui, naturalmente, um insaciável desejo de saber a verdade. É nesse paradoxo que consiste a origem e formação de muitos conflitos interiores e que, geralmente, mantêm a pessoa refém de suas próprias fantasias e justificativas, fazendo-a encobrir seu verdadeiro eu no mais tenebroso cativeiro existencial, onde o “eu ideal” se faz carceireiro cruel do fantástico e brilhante “eu real”.
Neste sentido, empreender o autoconhecimento é mesmo um ato heróico porque pretende vasculhar, cuidadosamente, cada beco da mente e do tempo na história de vida pessoal, para encontrar e “salvar” o verdadeiro eu, garantindo-lhe a liberdade e a segurança necessárias para uma existência plena e sadia que lhe é de direito.
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quarta-feira, 4 de junho de 2008
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