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domingo, 28 de junho de 2009

O Diário de um Eremita


O Diário de um Eremita.
Prof. Chafic Jbeili - www.chafic.com.br

Em um lugar bem isolado e de difícil acesso vivia um ermitão. Sua rotina compreendia as atividades de uma vida simples, pacata, pautada na meditação diária e no aconselhamento daqueles que o procuravam em busca de respostas para todos os tipos de ansiedades e sofrimentos vivenciais.

Oriundo de um grande centro comercial, aquele eremita acumulava conhecimentos característicos de qualquer catedrático dedicado a assuntos específicos e universais. Sabia ler, escrever e dominava alguns idiomas. Também possuía pequena, mas significativa biblioteca particular, na qual dedicava parte de seu tempo, bem ao estilo misantrópico.

A misantropia é uma disposição pessoal de aversão ao ser humano ou à natureza humana. Há várias razões por que alguém se torna um ermitão e opta por um estilo de vida fundamentado na antipatia ao convívio social, entre estas razões estão: decepção por conflitos intensos com outras pessoas; perda de confiança no ser humano; agorafobia; práticas religiosas; jornada espiritual; saturação natural ao convívio social, além de desprezo pela condição humana entre outros tantas. Todas as pessoas têm diariamente seus momentos misantrópicos.

Certa vez uma jovem viajou dias para falar com o tal eremita. Depois de encontrá-lo, observou um pequeno caderno de capa verde que se encontrava em seu colo. Então, curiosa e sedenta por palavras de sabedoria pediu ao eremita para folheá-lo. Sem titubear, o ancião entregou o seu diário e impôs uma condição: que ela lesse apenas uma página e depois lhe explicasse o que entendeu. A jovem concordou e ansiosa abriu aleatoriamente uma página qualquer. A página continha a seguinte frase: “Hoje o pássaro voou, o sapo pulou, a formiga cortou a folha e a lagarta virou borboleta”. Decepcionada, a jovem fechou o diário, olhou para o eremita e ambos ficaram alguns minutos em contemplativo silêncio.

Depois de um tempo a jovem disse: “Não entendi nada demais, apenas coisas comuns, nada especial, nenhuma novidade, nenhuma sabedoria, nada que possa mudar a minha vida, apenas as coisas como elas são”. O eremita sorriu enquanto alisava sua longa barba e disse: “A monotonia ou a novidade das coisas não estão nas coisas em si, mas na sua história. Nas páginas anteriores estão registradas: como a ave quebrou a asa e os meses de agonia até neste dia quando conseguiu voar novamente; a perna mais curta do sapo e sua persistência; o afogamento da formiga e o livramento da lagarta que quase virou alimento de uma galinha”.

Moral da história:
Ninguém poderá considerar algo especial se não conhecer antes a história daquilo que contempla. A vida é assim, se alguém não consegue se contentar com as coisas simples e comuns da vida, buscando a parte especial de sua razão de ser, dificilmente este alguém vivenciará um dia ou um momento especial, mágico, pois o que torna algo ou alguém verdadeiramente especial é a sua história de vida e não a sua vivência mais imediata.

Sempre que eu olho para uma flor, um pássaro, uma formiga, uma pessoa estranha ou um aluno eu tento imaginar sua história de vida e daí em diante eu passo a tratá-los como seres vivos incrivelmente especiais e aquela observação deixa de ser comum, monótona, para ser mágica e intensa, transformando o meu olhar e o meu modo de compreender cada existência.

Tenho aprendido a viver vivendo um caso de amor, por assim dizer, com cada coisa ou pessoa que cruza o meu caminho. Não há nada de especial nisto, muito menos em mim, apenas um jeito diferente e um pouquinho mais ampliado de se ver a mesma coisa. Desta forma, vou vivendo a minha misantropia no meio de tudo e de todos; preenchendo as páginas de meu diário como um aprendiz de eremita urbano.

Equilíbrio entre egoísmo e altruísmo.


Prof. Chafic Jbeili – psicanalista e psicopedagogo

Nada é tão ruim ou tão bom quanto parece. A diferença entre o remédio e o veneno está na dosagem. Não é o caminho dos extremos o mais adequado, mas o do equilíbrio. Luther king disse que “aprendemos a voar como os pássaros, a nadar como os peixes; mas não aprendemos a simples arte de vivermos juntos como irmãos”. Eu creio que a maior dificuldade humana não seja a da convivência em si, mas a manutenção do equilíbrio em tudo que faz e em tudo que se é ou gostaria de ser. O ser humano é desequilibrado por natureza. é a educação familiar e social que irá estabilizar ou não seus indivíduos.

A criança em seus primeiros anos de vida tem como referência o seu próprio organismo e, portanto, é egocêntrica. Todas as coisas e pessoas giram ao redor dela e, por isto, entende que está no centro de tudo e de todos. Esta é uma posição muito interessante, tanto que muitas pessoas insistem manter-se no epicentro de sua própria vida e, assim, tornam-se adultos com comportamento infantilizado e socialmente desequilibrado. A pessoa egoísta privilegia constante e sistematicamente seus interesses, necessidades e desejos ignorando aquilo que é importante para as outras pessoas.

A criança egoísta pode torna-se o adulto que tenta, a todo custo, manter-se não apenas no epicentro da sua própria vida, mas mantém fixação em ser o centro da vida dos outros, gerando conflitos de toda ordem, a exemplo de homens e mulheres possessivos, ciumentos, controladores, apegados às pequenas coisas e avarentos, simplesmente porque não aprenderam compartilhar seus brinquedos na infância e agora, na vida adulta, não conseguem compartilhar nada e por isto também não conseguem cooperar coletivamente.

Enquanto o egoísmo está associado ao princípio individualista e, portanto, a toda cultura que privilegia o indivíduo em detrimento do outro, a exemplo do capitalismo e do competitivismo, o altruísmo está conexo ao princípio da coletividade e, portanto, às culturas que têm como filosofia o convívio harmônico e igualitário entre as pessoas, a exemplo das famílias, algumas religiões e da idéia cooperativista. Lembrando que dar ao outro o que se quer ao invés daquilo que o outro precisa é um disfarce do egoísmo e não altruísmo genuíno.

Quando duas ou mais pessoas individualistas se unem dentro de um grupo maior formam-se os chamados blocos de interesse, também conhecidos como gangues de bairro, bancadas políticas, panelinhas etc; variando apenas de tamanho, objetivos e modos de agir para conseguir o que querem. Semelhantemente, quando duas ou mais pessoas altruístas se unem, formam-se as “forças tarefas”, dando origem a movimentos do tipo resgate, busca e salvamento, projetos sociais, mutirão, missões etc.

Observe o sofrimento de uma pessoa de índole altruísta quando está em um grupo de filosofia individualista. Lembre agora a confusão que uma pessoa egoísta causa quando tem acesso ao cargo de liderança dentro de um grupo de ideais cooperativistas; geralmente causa dissensões, desavenças e facções, minando a produtividade do grupo, seja este grupo uma equipe de trabalho, igreja ou mesmo uma família. Os dois casos são terríveis!

Saindo da análise comportamental e adentrando os aspectos psíquicos dos hábitos egoístas e altruístas, pode-se dizer que - no âmbito psicológico - o egoísmo é uma espécie de “assassinato” e o altruísmo uma espécie de “suicídio”. No primeiro caso o sujeito “mata” o outro em sua mente para se dar bem; no segundo caso o sujeito “se mata” para o bem do outro.

é preciso buscar equilíbrio nos pensamentos egoísticos e altruísticos sem que se chegue aos extremos, pois a questão não é “matar” ou “morrer”, mas viver bem sabendo que aquilo que é seu virá para você e aquilo que é do outro, o homem não toma!

terça-feira, 9 de junho de 2009

A ética que nos resta!



Por Chafic Jbeili -www.chafic.com.br

Estava escrevendo o texto da semana sobre oportunismo e vocação para educação, inspirado em uma freelance de aniversários que tomava conta de uma piscina de bolinhas, quando um programa de televisão me chamou mais a atenção e acabei impactado pela mensagem subliminar do programa: a idéia de que nos lugares mais sujos ou perigosos estão as notas de maiores valores.

Bem, estou falando de um programa onde os participantes precisam passar por todos os tipos de situações de perigo, nojo e medo com insetos, cobras, baratas, ratos, fígado de boi em emio a notas de dinheiro para conseguir juntar a maior quantidade. A cada etapa os eliminados são aqueles que ficam por último ou juntam a menor quantia.

O que me chamou a atenção foi que o programa sintetiza exatamente o que ocorre no dia a dia do trabalho e da vida de muita gente. Pessoas querendo cada vez mais, se submetendo à situações extremas (nojo, medo e perigo) precisando se manter entre os primeiros. Nesta disputa está fora de cogitação o amor ao próximo, a ética e a moral, preteridos à condição de sobrevivência no jogo. O programa é deprimente, não passa nenhum tipo de valor social mais nobre, mas a realidade que o mundo vive: a busca frenética pelo dinheiro. O que mais se pode abstrair de um programa deste? Lamentável!

Você sabia que o maior volume de dinheiro movimentado no mundo está no que remete ao medo e ao perigo? Ou seja, no tráfico de armas, no tráfico de drogas e no tráfico de animais silvestres. Sozinha, a indústria da guerra (só nos EUA) movimenta 100 bilhões de dólares por ano; o tráfico de drogas alcança a cifra de 320 bilhões de dólares em todo o planeta. Enfim, o dinheiro que circula na tríade criminosa, durante apenas um ano, seria capaz de extirpar a fome e o problema de moradia no mundo todo durante uma década, estimam especialistas em economia global. Foi isto que me fez lembrar esta competição suja e extravagante do tal jogo de TV.

Em uma outra emissora, onde há um programa também de competição, mas de enredo diferente chamado “O Aprendiz” - este eu tenho prazer de dizer o nome - Roberto Justus demitiu um jovem que durante uma prova tentou corromper um fiscal para poder se estabelecer como camelô. O apresentador não pensou duas vezes: demitiu o rapaz e condenou a prática de corrupção. No programa “O Aprendiz” o apresentador valoriza sempre a garra e a determinação, priorizando sempre a ética e os valores morais. Não perco um só “Aprendiz” e abstraio lições fantásticas, ao contrário daquele primeiro programa que citei, cujo enredo me deprime e me dá asco, nem tanto por causa dos ratos e baratas, mas pela filosofia de seu enredo, assim como quase toda programação daquela rede de TV.

Incrível como a filosofia de cada emissora influencia os seus programas e novelas. E mais incrível ainda é como estes programas e novelas influenciam o público telespectador. Mas não se preocupe em escolher a emissora que seu filho deva ou não assistir, exceto em relação à faixa etária da programação, em vez disto, converse com ele sobre o que se passa em cada programa e em cada novela. Explique o que você pensa sobre as cenas e os atos que ali são representados pelos artistas. Escute atenta o que ele pensa também. Aproveite as diferenças de mensagens em cada programa para expor a sua opinião e os seus valores, dando manutenção à semente de ética que queira semear.

Com o dilaceramento social das famílias, a cultura crescente de corrupção nos governos e a organização sistematizada no mundo do crime, resta às religiões o papel de preservar o pouco de valor ético e moral que ainda permeia o coração de muitas pessoas e influenciá-las positivamente para o caminho do bem, da responsabilidade, daquilo que é certo. Mesmo algumas poucas instituições religiosas se mostrando hipócritas, passíveis de muitas falhas e permeadas por falsos profetas, falsos padres e falsos pastores, as religiões ainda são as maiores propagadoras de valores éticos e morais que a população mundial precisa e pode contar. Acredite mais no valor da religião para o desenvolvimento da criança e das pessoas de modo geral.

Independentemente de sua escolha religiosa, sobretudo, incentive a frequência e prática no caminho do bem, pois em relação aos homens da guerra, da corrupção e do crime, como bem diz um verso sagrado: “[...] nem a sua prata, nem o seu ouro os poderá livrar no dia da indignação do Senhor”. Em outro verso diz: “[...] paz na Terra entre os homens de boa vontade”. Vamos aplicar bem a ética que nos resta?

Na semana que vem eu conto o caso da moça que tomava conta da piscina de bolinhas e me fez pensar numa analogia sobre muitos professores que lecionam como se fossem freelances da educação.

Um forte abraço e ótima semana!
Chafic

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segunda-feira, 1 de junho de 2009

Serenização da mente e assertividade



Por Chafic Jbeili – www.chafic.com.br

Você tem agora em algum lugar de sua mente a solução para a resolução de algum problema que eventualmente te aflige.

Quantas vezes por semana você para por alguns minutos e dedica ao silêncio? Seja em uma oração ou em uma meditação, você faz isto? Já pensou porque alguns adultos não conseguem ficar em silêncio, quietos, serenos? Já se perguntou por que algumas pessoas não conseguem ficar sozinhas consigo mesmas? Porque entram em casa ou escritório e já vão acendendo luzes, rádios, TV ao invés de buscar o silêncio, a resposta interior para o problema do dia ou da vida? Por que será que são (ou estão) sempre agitadas?

Pois bem, este texto foi inspirado em um contato muito peculiar que tive durante a semana. Uma pessoa me escreveu perguntando porque a vida era mais difícil para algumas pessoas e para outras nem tanto. “Porque algumas pessoas conseguem as coisas de forma mais fácil?” dizia ela.

Eu respondi: A vida parece sempre ser mais benevolente para quem tem a mente serena; assim como parece ser mais implacável com quem tem a mente agitada. Desenvolva a serenidade e verá a vida com outros olhos, pois estou convicto de que a assertividade é potencializada por mentes serenas. Mentes serenas acertam mais do que mentes agitadas.

Mentes agitadas pelas preocupações e pelo medo, focadas na sobrevivência em conseqüência de um perigo imaginário ou real eminente não apresentam raciocínio lógico suficiente para acertar nos desafios mais simples. Tente perceber como é difícil para alguém trabalhar ou estudar enquanto está sob algum tipo de ameaça, preocupado com dívidas, doenças, brigas, separação etc.

Quanto maior a adversidade da situação maior a necessidade de se praticar a serenização da mente, pois a mente serena é sempre mais assertiva e irá – naturalmente – sugerir soluções mais eficazes aos problemas, mesmo que seja a lembrança de um conselho do passado ou a elaboração de uma idéia que amenizará instantaneamente os efeitos dos eventos preocupantes.

Certa vez eu estava muitíssimo tribulado com um problema que, naquele momento, me parecia gigantesco e insolúvel. Mesmo tremendo e com taquicardia, parei em silêncio por alguns instantes e lembrei de uma frase que meu pai - um sábio oriental - me disse: "Filho, isto também passará!". Como foi bom lembrar desta frase naquele momento...

Nosso cérebro tem uma capacidade enorme de captação e processamento de informações. Mas o que cada pessoa faz com o resultado deste processamento de informações? Aquele que tem a mente serena aproveita os resultados a seu favor; o que tem a mente agitada fica ainda mais confuso e acaba jogando fora uma provável solução que tanto procura e precisa. Já ouviu alguém dizer: “Porque não pensei nisto antes?”

É mais ou menos como alguém que faz uma conta complexa em uma calculadora científica, mas não olha o resultado na tela depois que aperta o sinal de igual. A resposta está lá, mas a pessoa já desviou a atenção porque está com a mente agitada, inquieta, preocupada... e responde “não sei mais o que eu faço”, quando na verdade o que deveria fazer está bem ali no córtex frontal em forma de pensamento, de idéias, de sonhos...

Os sonhos são um bom exemplo disto. Boa parte das informações remotas, recentes ou imediatas que são captadas durante a vida pelo cérebro se mistura e é manipulada no processo onírico. Então, o cérebro oferece uma resposta, uma espécie de sugestão para resolução daquele problema, mas a pessoa não enxerga a proposta que o cérebro oferece e então age compulsiva e inadvertidamente aumentando as chances de erro e não de acerto.

Habitue-se a anotar seus sonhos e as soluções que ele oferece. Dê mais atenção às suas intuições.

Aqueles que têm mentes agitadas afirmam ter poucas intuições ou não lembrar de sonhos. Sonhar todo mundo sonha. É questão de higiene e sanidade mental, mas podem estar como no exemplo da calculadora: O resultado, a resposta da questão em evidência está na tela, bem debaixo do nariz, mas há agitação demais para enxergar o óbvio.

A intuição é outra fonte fantástica de sugestões que o cérebro oferece para resolução de problemas. Mas como dar ouvidos à intuição se a energia mental está canalizada para a fuga ao invés do enfrentamento?

Pessoas com boa auto-estima costumam confiar mais em suas idéias e intuições, enquanto pessoas com auto-estima baixa ou ruim costumam confiar mais em seus medos.

Neste aspecto a mente mais relaxada e serena pode ampliar quantitativa e qualitativamente suas propostas de soluções e também de seus acertos, parecendo que as coisas sempre dão mais certo para uns do que para outros.

A vida é sempre mais benevolente com todos que a escutam. Escutar a vida é escutar a voz interior, seja provinda de Deus no silêncio de uma oração ou provinda das resoluções oferecidas pelo cérebro; esta máquina fantástica de encontrar soluções.

Neste momento você deve querer perguntar onde entra a sorte nesta história, não é mesmo? Bem, sorte para mim é o encontro do preparo com a oportunidade. Quanto melhor preparado, menos sorte precisará. A sorte envolve preparo constante, a serenização da mente para enxergar as oportunidades e atitude para aceitar oportunidades ou arriscar soluções.

Na teoria do Código Interior eu defendo a tríade do sucesso: 1) Consciência (saber o que quer); 2) Serenidade (audição interior pela quietude da mente), e; 3) Ousadia (colocar em prática as sugestões advindas da consciência e serenidade para buscar o que se quer). É um ciclo contínuo!

Há várias técnicas de serenização da mente. A meditação, a oração, a respiração, a yoga, o tai chi chuan, entre outros inúmeros recursos. Pergunte ao seu médico ou terapeuta sobre técnicas de serenização da mente. Leia livros e artigos a respeito. Programe alguns minutos por dia, sempre no mesmo horário, para aquietar sua mente e dê mais “ouvido” às suas intuições, pois eu acredito que você tem agora em algum lugar de sua mente a solução para a resolução de algum problema que eventualmente te aflige.

Para todos que se consideram donos de mentes agitadas, inquietas eu sugiro carinhosamente: Busque dentro de si a resposta que procura e depois me conte como foi!

Para saber mais sobre o Código Interior visite www.chafic.com.br e acesse a sessão “Blogs temáticos”

Abraços e muito sucesso!

Prof. Chafic

Cartilha sobre burnout em professores. Distribua!

Qual assunto te interessa mais?