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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O quarto e quinto reinos.


O quarto e quinto reinos.
Chafic Jbeili – www.chafic.com.br

Ele não pensa muito, vive por impulso. Faz o que dá na “telha”, sempre, o tempo todo! Não estou falando de pessoas impulsivas, indisciplinadas ou com déficit de atenção, claro que não, por favor! Também não estou falando dos adoráveis animais de estimação. Estou falando dos “bichos” quase humanos que vivem disfarçados de gente.

Eu acredito piamente que em algum momento de sua existência e evolução, um ser vivo de um reino inferior tenha objetivado transpor seus limites e tentado, de alguma forma, migrar para um reino superior. Tem plantas que se parecem com minerais; tem insetos que se parecem com planta e, com certeza, tem neo-mamíferos com mente predominantemente reptiliana que se parece com gente. O grande ponto de distinção é o raciocínio!

Na escola eu aprendi que há o reino mineral, vegetal e animal. Talvez aí resida o problema: a ausência do quarto reino. Colocar homens e animais em um mesmo reino é conceder direitos humanos para quem não é humano e conceder direitos vegetais mais rigorosos para plantas do que para pessoas. Há crianças que seriam melhor protegidas pelo Ibama se estivessem no reino vegetal. Mas se pessoas não podem usufruir privilégios de outro reino, animal ou vegetal, por exemplo, por quê bicho pode usufruir direitos humanos?

O grande ponto de distinção é o raciocínio! Aliás, pensar, raciocinar e ajuizar escolhas não é o seu forte. Ele decide por instinto, para o instinto e em nome do instinto. Gosta de viver uma vida selvagem, porque ignora seu potencial de humanidade e mal cogita ou estima a possibilidade de vir a se tornar uma pessoa humana, humanista, humanitária. Não sei se é um humano animal ou se é um animal humano. Eu juro que não sei o que é! Gostaria muito sabê-lo, mas não sei mesmo.

Só sei que ele, na condição de bicho, vive a maior parte do tempo na urgência de atender suas necessidades mais imediatas. Não é humano porque não mede esforços para conseguir o que precisa, sem se importar com regras e leis. Quem dera ao menos importasse com o horário e a condição do outro, mas não! Como não é humano, ele vai conseguir o que quer, da forma mais não-humana possível.

Eu o imagino agora com corpo e cara de gente, sobre duas pernas, mas ofegante, com a língua agitada do lado de fora de sua boca. O olhar predador está à espreita de algo que possa tomar. Esta é sua especialidade.

O andar é errante, ora para o longe e deserto, ora na direção onde tem mais movimento e volume de pessoas, depende de sua necessidade momentânea. Quando tem posse de algo abundante, se afasta para usufruir sozinha; quando não tem nada, se aproxima para usurpar.

A pouca e primitiva massa encefálica, quando possui, desenvolveu na região localizada entre o estômago e a genitália, parece. Se estiver com fome, pega e come, não importa a hora ou o lugar. Se estiver com sede, pega e bebe, depois blasona porcamente, sem qualquer escrúpulo ou constrangimento. Se estiver com sono, tira os sapatos ou as sandálias, esfrega os pés sujos e suados na superfície de uma poltrona alheia, de preferência revestida de tecido, às vezes no Fórum ou na Igreja, locais de maior compostura social, mas isto não faz a menor diferença e ele sorri descaradamente como expressão de um conforto imediato saciado.

Tendo saciado sua fome, a sua sede e encontrado um lugar qualquer para se descuidar, é hora de pensar em sexo, ou melhor, copulação! Claro! Nada mais natural para um não-humano do que copular. Ele não tem vergonha de demonstrar isto, pois chocar os outros é a forma como aprendeu roubar a atenção do outro...

Aliás, roubar é sua atividade predileta! Rouba de tudo o que as pessoas humanas têm de mais precioso: rouba tempo; rouba atenção; rouba afeto; rouba confiança; rouba direitos; rouba saúde; rouba integridade; rouba respeito e rouba muito mais que puder e vier à sua mente. Como não consegue desenvolver atributos humanos, então precisa roubar. Rouba porque não tem honra, não tem integridade, não tem dignidade, não tem humanidade. Rouba porque é uma pessoa não-humana, pois humanos não roubam, humanos criam, desenvolvem, constroem.

O roubo é um atributo característico e pertinente do reino animal. Indivíduos com a mente limitada ou predominantemente ao nível reptiliano roubam. Por isto não planejam nada! Se precisam de algo, vão lá e roubam, não importa o que ou de quem.

Ele, a pessoa não-humana ou bicho-homem, não planeja quase nada, pois resolve tudo na hora em que acabou de precisar. Fica tudo para última hora, pois vive na última hora. Com a energia instintual, a única coisa que lhe dá prazer e segurança é saber onde estão as coisas e as pessoas que tem as coisas de que precisa.

Quando tem uma necessidade imediata vai lá e subtrai à força, tal qual fazem os animais com sua força bruta ou tal qual fazem os humanos mais eruditos e eloqüentes com a força de sua argumentação.

O bicho-homem disfarçado de gente não é bicho, pois usufrui das mesmas leis dos homens e quando é descoberto fazendo algo não-humano, pode cinicamente recorrer aos “direitos humanos” e exigir tratamento digno de gente.

Mas o bicho-homem disfarçado de gente também não é gente, pois não faz o que a mais simples das pessoas, apesar de todas suas deficiências, faz: Olha com ternura, considera o outro, respeita regras, horários, limites de espaço, objetos, privacidade alheia, não cerceia a liberdade, enfim, faz tudo o que qualquer pessoa humana, por menos desenvolvida que fosse, faria.

Misturar todos os reinos ou separá-los ainda mais? O quarto reino seria a solução? Creio que nada disto, pois o que deveria mudar é a atitude (disposição) dos minerais, vegetais, animais e humanos de interação. Quanto mais ética e harmônica, mais chances de pertencer a um mesmo reino e usufruir direitos iguais. Um cão que salva uma vida poderia pertencer ao mesmo reino de uma planta que cura e de um pessoa altruísta; mas um homem de comportamento hediondo, indecoroso, deveria ser classificado em um outro tipo de reino que não fosse mineral, vegetal, animal ou humano, mas um outro reino, quem sabe um quinto reino: o reino dos hediondos, das plantas venenosas, das bestas fera do campo; lugar reservado a todas as espécies vivas que fizerem jus umas às outras.

A qual reino você pertence?

Chafic Jbeili – www.chafic.com.br

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