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terça-feira, 17 de novembro de 2009

Pilar 3 da QVT: A Gestão das Competências!

O terceiro pilar da QVT: A gestão das competências!
Chafic Jbeili – www.chafic.com.br

Você já realizou ou realiza alguma tarefa que contraria profundamente suas vontades? Você já realizou ou realiza funções que afloram em você sentimentos de que está sendo subaproveitado ou que te faz sentir menor ou menos capaz do que você realmente é? Você já se sentiu violentado pelo trabalho que realiza? Enfim, quanto exatamente o trabalho que você realiza está aquém do seu currículo, de sua experiência e, principalmente, de suas vocações? Quão distante está o seu trabalho daquilo que realmente você queria ser quando era criança?

As crianças elegem seus modelos e suas referências. Estas referências são introjetadas ao longo do desenvolvimento e vão para um lugar chamado inconsciente, ficando fora do campo perceptivo, contudo tais referências permanecem latentes, determinando impulsos, influenciando escolhas.  Se essas referências encontrarem respaldo no DNA, potencializando as habilidades específicas, então se tornam a(s) vocação(ões). Uma vocação é o conjunto de habilidades específicas e de disposições internas que determinam as tendências profissionais de uma pessoa.

A gestão por competência tem como essência conhecer a vocação do trabalhador e localizar na organização a função que mais se enquadra às aptidões desse trabalhador, oferecendo-lhe oportunidade realizar tarefas mais condizentes com suas competências e interesses. Este tipo de gerenciamento de recursos humanos é um dos principais fatores de produtividade e tem sido implantado com sucesso em muitas empresas e órgãos públicos.

A responsabilidade na gestão da competência deveria ser primeiro do trabalhador (autogestão), mas este às vezes aceita participar de seleções de emprego e concursos públicos tendo em vista apenas a questão salarial e a estabilidade, arriscando assumir atribuições que contrariam suas vocações. Com o tempo, muita disciplina, profissionalismo e um pouco de sorte, poderá até aprender a gostar do que faz e fazer bem, mas nem sempre é o que acontece, não é verdade?

Lembro de uma jovem administradora de empresas que passou em um disputadíssimo concurso público para trabalhar no Supremo Tribunal Federal e, depois de sua posse, foi designada (por sorteio aleatório) para um departamento que cuida de processos obituários. Ela precisava ler laudos do IML e ver as fotos técnicas de cada processo, com detalhes da anatomia dos acidentados, cujo objetivo era atestar a procedência daqueles pedidos de indenização. Resultado: um ano e meio depois da posse ela estava com sua primeira licença médica, devido uma forte depressão que desenvolvera na realização de seu trabalho.

Na gestão por competências, certamente a designação do posto para análise de processos obituários seria dada preferencialmente a profissionais vocacionados à medicina, biologia ou enfermagem, mesmo que eventualmente tivessem graduações diferentes destas áreas, mas dificilmente seria dada a uma pessoa avessa a sangue, fraturas expostas e fotos cadavéricas. Entende a incongruência no método de designação de função por outro método que não o de gestão por competências?

Em toda organização existem os diversos departamentos: administrativo, jurídico, marketing, RH etc. Cabe aos gestores identificarem as vocações de seus colaboradores e fazer a recolocação adequada para que haja qualidade de vida no trabalho e, consequentemente, gozo e produtividade. Creio que boa parte das doenças laborais tenha vínculo com a má gestão dos recursos humanos.

Outro aspecto negligenciado na gestão por competência é quando o profissional está no departamento e funções adequados, mas o chefe imediato, por alguma razão de improbidade, insiste desviar de função determinado membro da equipe, atribuindo-lhe tarefas aquém das suas capacidades. Nada mais desconcertante, constrangedor e improdutivo tirar um técnico de trabalho específico que somente ele tem condições realizar para designá-lo realizar outras tarefas cujo cumprimento não exige maiores conhecimentos e que, na prática, qualquer outra pessoa poderia realizar.  É de fato incompetência do gestor, senão crime de improbidade administrativa.

Uma coisa é o funcionário ser humilde não julgando a si próprio como especial demais para realizar tarefas consideradas simples ou inferiores, a exemplo de profissionais que acham absurdo limpar a própria mesa, carregar apostilas para reunião ou mesmo devolver à copa a garrafa de café. Outra coisa é o profissional aceitar um emprego porque precisa daquele salário, sujeitando-se a tarefas e chefes que não levam em consideração sua capacitação e experiências, simplesmente ignorando suas competências.
 
No início do ano eu escrevi texto intitulado “Freelancers da Educação”, fazendo analogia sobre pessoas que fazem “bico” como educadores. O problema é exatamente este: fazer bico em trabalhos que a pessoa jamais se imagina realizando e no final acaba violentando a si mesma. O resultado é sempre desastroso para todos os envolvidos.  

Desde a revolução industrial se tem notícia da disputa por uma vaga de emprego no mercado de trabalho. Não são poucas as pessoas que se submetem a serviços, cujas atribuições chocam com as vocações. Realizar algo somente em função da remuneração é uma espécie de autocorrupção e autoprostituição. A prostituição profissional corroe a alma do sujeito, minando sua alegria de viver, fazendo-o se sentir a mais inadequada das pessoas.

Quem de nós não conhece alguém que está em um trabalho considerado perfeito, mas no fundo no fundo percebe que aquela pessoa está infeliz com o que faz? E você como se sente com o seu trabalho?

A gestão por competência está voltada para a autonomia, incentivo ao autocontrole, desenvolvimento das qualidades múltiplas e treinamento a respeito do processo de trabalho.  Esses fatores fazem o trabalhador sentir-se mais seguro e competente na consecução de suas atribuições e, consequentemente, mais realizado com a profissão que escolheu abraçar e seguir carreira.

Cabe a todos, profissional e gestores, ficarem atentos ao terceiro pilar da Qualidade de Vida no Trabalho, pois se os profissionais devem buscar conhecer as próprias vocações e escolher empregos mais condizentes para si. Os gestores, por sua vez, devem conhecer e considerar a vocação de cada membro de sua equipe para designar funções e tarefas mais condizentes com os objetivos da organização, aproveitando melhor o capital humano e gerar mais qualidade à força de trabalho que está sob sua responsabilidade.

Saúde e bem estar do trabalhador no ambiente laboral é questão de produtividade, sucesso e realização profissional. Nem sempre estas coisas estão relacionadas objetivamente ao dinheiro. O que cada pessoa sente com o trabalho que realiza determinará sua percepção de remuneração justa e adequada, provando que nem todos fazem o fazem somente pelo que ganham.

Encerro esta reflexão sobre qualidade de vida no trabalho com uma frase de Henry Ford: "Se o dinheiro for a sua esperança de independência, você jamais a terá. A única segurança verdadeira consiste numa reserva de sabedoria, de experiência e de competência". Quais são as suas? Quais são as de seus subordinados?

Prof. Chafic Jbeili
www.chafic.com.br






Prof. Chafic Jbeili
Psicanalista e Psicopedagogo
Diretor e editor Chafic.com.br - www.chafic.com.br
Diretor-executivo ABMP/DF - www.abmpdf.com
Presidente Sopensar - sopensardf.blogspot.com

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