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domingo, 8 de novembro de 2009
Pilar 2 da QVT: As Condições de Trabalho.
O segundo pilar da QVT: As Condições de Trabalho.
Chafic Jbeili – www.chafic.com.br
Destaquei no primeiro texto desta série de oito crônicas sobre a QVT, que o trabalho é a fonte mais fidedigna para uma pessoa obter os proventos necessários ao custeio e manutenção de sua sobrevivência e, por isto, ela precisa ser remunerada de forma justa e adequada. Agora, no texto corrente, comentarei o segundo pilar da QVT, cujo substrato teórico continua sendo a teoria de Walton (1973). Desta vez o destaque vai para as condições de trabalho.
Sabe-se que o ambiente laboral é o lugar onde uma pessoa permanece a maior parte de seu dia, na maioria das vezes até mais do que na própria casa. Daí a relevância desta reflexão, ainda que de forma breve, sobre o impacto das condições de trabalho sobre a qualidade de vida do trabalhador.
Levando-se em consideração a totalidade de tempo dedicado a um mesmo local, o ambiente de trabalho pode ser facilmente considerado como segundo lar e, por conseguinte, os colegas que ali compartilham desse mesmo espaço, tornam-se como uma segunda família, com todas as prerrogativas positivas e negativas que todo grupo familiar geralmente apresenta. Por este motivo, não se pode negligenciar as condições em que uma pessoa passa todo esse tempo em um mesmo local, compartilhando idéias e materiais com tantas pessoas diferentes. Necessário se faz proporcionar e manter condições favoráveis para que um trabalhador execute suas funções.
Com base nesta perspectiva de influência das condições de trabalho sobre a qualidade de vida do trabalhador, quero ressaltar pelo menos dois aspectos que considero mais relevantes: o primeiro aspecto é o da ambientação, alude à parte material e diz respeito às instalações físicas, incluindo desde a disposição do mobiliário até a salubridade e segurança geral do local. O segundo aspecto é o da ambiência, restrito à parte funcional da dinâmica trabalhista e diz respeito à qualidade e intensidade das relações vivenciadas durante a jornada de trabalho.
Sobre ambientação, sabe-se que a maioria das doenças laborais que afligem o corpo é, sobretudo, decorrente da infeliz combinação entre mobiliários ergonomicamente inadequados, mal posicionados e o uso indisciplinado desses componentes, ou seja, é a conjugação entre a cadeira inapropriada, desconfortável e o sentar-se de qualquer jeito. Outro exemplo é o uso intenso e contínuo de um aparelho de ar condicionado antigo, sem a devida manutenção em seus filtros de ar; ou ainda a pessoa que passa, por exigência da função, períodos prolongados de tempo fazendo a mesma coisa em uma mesma posição, como é o caso de professores que passam horas e horas lecionando em pé, facilitando diversas complicações de circulação, desvios na coluna ou até mesmo lesões musculares.
Todo e qualquer obstáculo na realização de uma tarefa rouba energia do trabalhador e violenta suas estruturas físicas e emocionais, inibindo a produtividade. O esforço intenso e contínuo na realização de uma tarefa, cuja magnitude da ação seja maior do que a resistência oferecida pela adequação do ambiente de trabalho será sempre onerosa e contra produtiva para a empresa. Em suma: a diferença de preço entre a cadeira mais barata e a mais adequada não é nada se comparado aos prejuízos causados pela improdutividade e as licenças médicas recorrentes do uso de um determinado equipamento, impróprio para uma pessoa realizar cabalmente sua tarefa.
Pode parecer sem importância, mas a posição em que os móveis estão distribuídos em um ambiente também pode interferir na dinâmica laboral, a exemplo daquela estante ou arquivo posicionado na frente da única janela da sala, impedindo a entrada de luz natural e a necessária circulação de ar, causando desconforto e insalubridade, ambos inibidores da produção. Imagine como incomoda trabalhar em um computador que fica de frente para uma janela. A pupila fecha por conta da claridade, mas é forçada a abrir para enxergar a tela do computador, causando fadiga e o trabalhador terá dificuldade realizar a digitação, aumentando a possibilidade de erros. Neste time, os ruídos internos e externos, assim como a qualidade da iluminação artificial também contam como quesitos contra producentes no ambiente de trabalho e devem ser evitados.
Os toaletes são itens à parte neste contexto das condições de trabalho. Detenho-me a mencionar aqueles de uso restrito e limitado, a exemplo dos banheiros da sala dos professores ou aqueles reservados a um determinado departamento da empresa. Como é terrível voltar do horário do almoço, precisar usar o banheiro e não ter condições de higiene para isto. O turno da tarde não renderá tanto, haja vista o desconforto de uma necessidade pessoal sobre a exigência de desempenho profissional. É claro que muitas pessoas sábias e eruditas, porém muito mal educadas não colaboram na manutenção dos banheiros, mas geralmente o pessoal da limpeza é mal orientado, operando somente pela manhã e no final da tarde. Precisa ser mais vezes, em horários que antecede o horário de pico dos toaletes! Mas algum gestor já fez esta pesquisa para identificar necessidades de ajustes nos horários de limpeza do banheiro? Acredito que não!
Sempre que posso faço uma visita ao banheiro dos professores e em alguns destes banheiros, especificamente, pude constatar papel higiênico de terceira categoria, daqueles de cor cinza, que eu não utilizaria nem para apoio em resfriados. Vi também frascos de detergente Odd no lugar de sabonete líquido, folhas de A4 para enxugar as mãos e espelho daqueles minúsculos com moldura alaranjada e vidro trincado no canto. Que tipo de escola oferece um banheiro deste para seu Corpo Docente? Que visão de motivação e produtividade mantém tais gestores? Uma lástima!
Outro fator considerável no contexto material das condições de trabalho é a segurança. A energia psicossomática desprendida por um trabalhador que se sente desprotegido e inseguro em seu local de trabalho é enorme. Tal força seria melhor aproveitada se fosse canalizada para a produtividade. Esta insegurança laboral que rouba a vitalidade do trabalhador advém quase sempre de possíveis ameaças naturais como incêndio, inundações, contaminações por epidemias ou do risco eminente de agressão pelo público interno ou externo da instituição.
Assim como o simples uso do sinto de segurança nos automóveis aumenta a sensação de segurança em motoristas e passageiros, do mesmo modo, medidas como a colocação sinalizada do extintor de incêndio em paredes estratégicas; grades; câmeras de segurança; apoio para mediação de conflitos ou mesmo a presença de um vigilante na portaria aumentam a sensação de segurança do trabalhador. Faça pesquisa entre seus colaboradores e verifique o que mais causa insegurança no local de trabalho, depois tome providências! A energia extra que o funcionário gasta na expectativa de que algo ruim irá acontecer, desviando sua atenção, poderá ser deslocada para a atividade principal, diminuindo o estresse e colaborando para a QVT e a produtividade.
Trabalhar em um local onde haja política de segurança evidente, com instruções claras, treinamentos e simulações para situações de emergência, bem como equipamentos sinalizados e devidamente posicionados demonstra nitidamente a preocupação da empresa em zelar pelos membros de sua equipe. A sensação de proteção que se oportuniza aos colaborares retorna em produtividade e resultados para a empresa.
As empresas com foco em produtividade e resultados sabem que não oferecer uma cadeira apropriada; um banheiro limpo para se utilizar ou segurança durante a jornada de trabalho pode interferir significativamente na qualidade de vida de seus colaboradores, suscitando neles sentimentos e comportamentos contrários à consecução de metas e objetivos, tornando o trabalho contra producente, reafirmo.
Sentir-se protegido, ter mesas, cadeiras, materiais, equipamentos adequados e bem posicionados em espaço de trabalho sempre limpo e arejado, além de contar com banheiros asseados, com aquele cheirinho de limpeza, onde se podem encontrar sabonete líquido, toalha descartável e papel higiênico de qualidade são providências fundamentais para o bem estar do trabalhador.
Se o trabalhador se sente bem, certamente irá produzir mais e melhor. Sua autoestima será fortalecida, interferindo positivamente em seu comportamento e potencializando o rendimento e a fecundidade de suas idéias e ações dentro da instituição.
Toda e qualquer ação de reconhecimento capaz de fazer um trabalhador se sentir estimado e importante em seu local de trabalho irá deixá-lo mais produtivo e eficiente.
Na perspectiva do aspecto de ambiência, restrito a parte funcional da dinâmica trabalhista, destacam-se o tratamento dispensado pelos chefes e pelos colegas de equipe ao trabalhador. As relações conflituosas, onde há agressões verbais constantes, assédio moral ou sexual, entre outros tipos de violências menores ou maiores relacionadas à dinâmica de trabalho cooperam para a queda da qualidade de vida do trabalhador.
Enfim, enquanto os aspectos de ambientação inadequada consideram-se o desconforto, a insalubridade e a insegurança como fatores contra producentes, por outro lado, os aspectos da ambiência inadequada irão considerar as relações interpessoais estressantes e a má qualidade das vivências do trabalhador.
Estes fatores, entre outros diversos e específicos conforme cada caso, por isto não citados aqui, podem estar relacionados como consequências da má gestão em relação aos critérios de escolha e aquisição de mobílias, equipamentos e materiais de manutenção do ambiente laboral, bem como da ausência de políticas eficazes de gestão de pessoas. No primeiro caso o gestor geralmente privilegia, nas compras que faz a economia pecuniária em detrimento do conforto e da saúde geral do trabalhador e, no segundo caso, negligencia os aspectos motivacionais na gestão de sua equipe.
Neste antro de perdição gerencial que deteriora as condições de trabalho, perdem todos! Perde a instituição, perdem os colaboradores e perdem os clientes. No fim, pode-se constatar uma instituição medíocre, cujo foco da administração está voltado para “apagar incêndios”, com uma equipe alheia, composta de membros desunidos, desmotivados e, obviamente, gerando cada vez mais clientes insatisfeitos, sempre à espera de uma opção melhor.
Desta forma, o segundo pilar da qualidade de vida no trabalho é, sem dúvida, as condições de trabalho.
Prof. Chafic Jbeili
Psicanalista e Psicopedagogo
Diretor e editor Chafic.com.br - www.chafic.com.br
Diretor-executivo ABMP/DF - www.abmpdf.com
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