Por Chafic Jbeili
Tenho refletido sobre a possibilidade de existência de certas regras ou sistematização de ações para a obtenção de sucesso e realização pessoal. Comecei por observar o perfil de homens e mulheres bem sucedidos e notadamente realizados. A tarefa me causou, a princípio, mais confusão do que organização das hipóteses que eu procurava comprovar. Acontece que vi pessoas simples, às vezes com pouca instrução e na maioria das vezes com uma renda mínima, suficiente apenas para sua sobrevivência, mas realizadas. Eram pessoas que sorriam com facilidade e mal sabiam o que eram depressão e angústia. Nem se lembravam quando foi a última crise de choro, o que me deixava ainda mais surpreso. Mas percebi também a existência de outras pessoas com perfil idêntico que não transpareciam gozar realização pessoal e, ao contrário, reclamavam compulsivamente. Suas palavras eram como que gemidos de dores imprecisas.
Também encontrei pessoas eruditas, ricas e abastadas. Algumas realizadas e outras bastante infelizes e frustradas. Então, concluí que ser simples ou não; ter pouco ou muito dinheiro; ser bem instruído ou não entender nada sobre bolsa de valores e aplicações financeiras não garantia nada a respeito de sucesso e realização pessoal. Mas então de onde vem a realização pessoal? Foi a pergunta que eu fazia aleatoriamente a qualquer pessoa. Aquelas que pareciam realizadas diziam vagamente que a realização vinha de dentro de si; outras mais religiosas diziam que era Jesus ou Deus, mas na verdade nem elas sabiam de onde vinha aquele regozijo e alegria de viver, pois não são poucas as pessoas que conheço que alegam ter Jesus no coração, mas o retêm só para si e, talvez por isso, não se sentiam plenamente realizadas. Logo, o fator religiosidade também não era o elemento deflagrador daquela sensação. Mas, o que era então?
Embora curioso, faltava em mim a vontade genuinamente científica para descobrir esse fenômeno, e a possibilidade de empreender uma pesquisa quantitativa estava cada vez mais distante em minha imaginação. A idéia era buscar intuitivamente um ponto comum entre as pessoas que gozavam realização pessoal e compartilhar tal descoberta. Foi então que um grande amigo, no meio de sua conversa, disse-me que “somos um canal de bênção na vida das pessoas”. Eureka! Esse parecia o ponto comum que eu procurava. O que ricos e pobres, doutos e leigos que transpareciam realização pessoal tinham em comum era exatamente isto: eram fluentes e efetivos canais de bênçãos na vida de outras pessoas. Eram bons provedores e bons companheiros. Eram caridosos e altruístas. Transbordavam, de alguma forma, generosidade. Não retinham o que possuíam.
Por silogismo hipotético, se para gozar realização na vida a pessoa precisa ser “canal fluente” de bênçãos ao próximo, logo, se a pessoa não goza de realização pessoal é porque provavelmente esteja “entupida”, retendo e impedindo que as bênçãos ou virtudes fluam por si e alcancem seu destino, ou seja, o próximo. Nada mais angustiante e insalubre do que algo entupido. Um cano, um canal, um rio, um bueiro ou uma pessoa “entupida” é sinal de paralisação, caos e insalubridade. Uma pessoa “entupida” é aquela pessoa que tem dó de oferecer algo ao seu próximo, quer reter tudo para si e em si. Ora, se reprimir é deter, conter uma idéia ou dom, frear um impulso ou uma vontade, então as pessoas reprimidas são como canais entupidos que transbordam sujeiras (suas queixas) e, assim, perdem a condição de serem canais de bênçãos. Não sendo canais de bênçãos, é natural que se sintam pesadas e até inúteis às outras pessoas, impedindo a concretização de sua realização pessoal, com base na premissa apresentada.
Minha leitura desse processo é que enquanto as pessoas não conseguirem, por algum motivo, descobrir e realizar aquela atividade que está latente em seus inconscientes, em geral relacionada com a vida infantil, então se entupirão na vida adulta com atividades paralelas e compensatórias, podendo não encontrar sentido em seus empregos, em seus relacionamentos e até mesmo em suas vidas, impedindo sua plena e satisfatória vivência. Dessa forma, o rancor, a inveja, o ciúme, a tristeza sem causa aparente e a infelicidade tornam-se potenciais sintomas desse eventual “entupimento” chamado repressão, ou seja, a impossibilidade de fluência de uma virtude, de um desejo ou de uma vontade reprimidos, contidos à força em um lugar obscuro da mente: o inconsciente, responsável, segundo Freud, por todo impulso dinâmico do homem.
Portanto, busque descobrir qual atividade eventualmente possa estar latente em seu inconsciente ao refletir sobre o tipo de afazeres lhe parece ser mais condizente com seus desejos mais remotos e profundos. Ao descobrir isso, o “desentupimento” será instantâneo e, acredito eu, o vislumbre da eminente realização pessoal lhe será indescritível. Me escreva para contar a experiência!
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